sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Depois que você partiu...


Depois que você partiu tudo mudou por aqui. Foi tão de repente que o primeiro desafio foi aceitar esse rompimento e tentar entender e administrar os pensamentos, as emoções, os conceitos que tinha da vida e de como o mundo deveria funcionar. 

Tudo virou uma bagunça só...se eu não tivesse o amparo espiritual que tenho certeza que tenho até hoje e a juju que depende de mim, não tenho dúvida que teria perdido completamente a razão. Nada mesmo acontece por acaso. 

Depois que você partiu, pude entender muita coisa na minha vida e ao meu redor, mas por mais que eu saiba que todos nós temos o nosso tempo, não há resposta alguma que seja suficiente para tirar de dentro de mim o sentimento constante de exclamação. 

Aprendi, então, que razão não anda de mãos dadas com sentimento. A frase que diz que seu coração tem que estar em sintonia com sua razão é pura teoria.

Depois que você partiu, Juju teve que amadurecer à força. Se nós, adultos, não conseguimos lidar facilmente com a morte (vivemos a vida nos preparando para perdas previsíveis cronologicamente - avós, pais, tios), vivenciei com ela o quão duro e difícil é para uma criança lidar com isso. Lá se foram os primeiros sonhos e fantasias de uma menina de 9 anos e surgiram inúmeros questionamentos, dúvidas, incertezas, inseguranças, medos, tristezas que nem sempre eu consigo resolver. 

Aprendi, também, que não tenho controle de tudo, não consigo resolver tudo e se antes pra mim isso era um problema, por questão de sobrevivência e necessidade de não enlouquecer, comecei a me permitir não dar conta de tudo e não me considerar uma pessoa incompetente, resolvi cuidar da minha saúde física e emocional. 

Tudo pensando que precisaria estar menos pior a cada dia para ser para a Júlia o porto seguro que ela precisava e ainda precisa. E um porto seguro não pode ser frágil, instável, vulnerável (ou pelo menos não pode aparentar). Apesar disso, não deixei de dividir com ela minhas dores, tristezas, choros e angústias que sinto depois que você partiu. 

Depois que você partiu, acredito que houve um desequilíbrio energético e com isso, outras rompimentos aconteceram. E, pra variar, não menos comum na minha vida, subitamente tive que me reinventar, reorganizar. Mas dessa vez, com menos sofrimento. 

Foi quando me dei conta que aprendi o verdadeiro significado da palavra "conformismo". Se antes significava algo ruim, acomodação, hoje entendo como aceitação do que não podemos mudar. Literalmente "deixar a vida me levar" sem revoltas, indignações. 

Isso não quer dizer que não sofra ou não faça a minha parte em busca de crescimento (seja ele qual for), mas sim que procuro colocar meu foco e pensamento nas razões pelas quais estou onde estou e o que há de bom ou necessário em tudo isso. Até quando? Também não sei e prefiro não pensar nisso, já que tudo dura o tempo que for necessário para nosso crescimento e amadurecimento, independente da nossa vontade.

Sem perceber, aprendi a não ser tão ansiosa, apreensiva e lá se foram as crises de pânico que ocorriam nas madrugadas. 

Depois que você partiu, foi inevitável não pensar sobre o tempo temos aqui, a responsabilidade que tenho comigo mesma e com quem precisa de mim, como vivo a minha vida e como cuido de mim e me vejo neste mundo. 

Aprendi a dar mais valor ao meu dia, considerar pessoas certas, excluir outras que não fazem diferença na minha vida (e olha que foi um monte! Muito mais do que eu imaginei!). Observo e analiso mais as pessoas e o mundo ao meu redor. Afinal, nada acontece por acaso e todas as pessoas que entram na nossa vida tem um objetivo a cumprir. Tento fazer vista grossa para o que me incomoda, finjo que não escuto outras para não me chatear e definitivamente deixei de julgar e de me importar com o que qualquer pessoa pensa sobre mim. Qualquer uma mesmo! A frase que diz: "o que os outros pensam de mim NÃO É PROBLEMA MEU" é a mais perfeita que existe e em prática diariamente na minha vida. Isso me blinda de pensamentos, sentimentos, palavras e energias negativas que qualquer um possa me transmitir. Foquei mais em mim, na Julia, nossas necessidades e fiquei mais solitária, com certeza! Mas com muito mais paz e tranquilidade emocional e espiritual. 

Aprendi também a não me sujeitar ao que não me agrada, não idealizar pessoas e situações, a ser mais racional do que emotiva e não pagar pra ver circunstâncias que já sei como terminam. Ou seja, estou mais intolerante e isso não que dizer nada ruim. Apenas sigo muito mais meu sexto sentido, minha experiência de vida e isso evita sofrimentos desnecessários. 

Aprendi que ficar sozinha é vital e necessário, não me faz uma pessoa infeliz, depressiva, angustiada ou problemática, muito pelo contrário. Recarrego minhas energias, cuido de mim e com isso, consigo estar melhor pra cuidar da Júlia também. 

Aprendi que gosto de viajar sozinha, tenho direito de ter férias só minhas e para ser uma boa mãe não sou obrigada a abrir mão da minha personalidade, meus gostos, vontades, momentos privados nem das minhas necessidades. 

Aprendi a não me preocupar com o futuro porque não posso interferir em nada do que venha acontecer. Com medo, dúvidas, preocupações, inseguranças ou não, o que tiver que acontecer vai acontecer independente do que eu sinta ou queira. Caberá a mim saber lidar com o que me aguarda.

Depois que você partiu nada está como antes....muito menos eu!